Por Sandra Jávera
Meu nome é Sandra Jávera e sou assistente do ilustrador Andrés Sandoval. Acompanhei o desenvolvimento do último trabalho dele para um livro infantil e fiz algumas fotos para apresentá-lo a vocês.
Este é o espaço de trabalho do Andrés, lotado de esboços (que aparecem nas paredes e gavetas) que ele fez para o livro Siga a seta, da editora portuguesa Planeta Tangerina. A sequência dos desenhos mostra a evolução da linguagem e alguns estudos de ocupação do espaço da folha.
No começo, o trabalho se concentrou na representação das setas e caminhos que percorriam todo o livro. Apesar de serem o tema principal do texto, a narrativa estava um pouco monótona somente com elas. Assim, logo entraram as cores, acompanhadas de novas personagens e mais elementos da cidade, o que enriqueceu as imagens e deu novo ritmo à história.
Os desenhos de seta foram feitos à mão num pequeno caderno e depois vetorizados e transformados em carimbos. Andrés tem uma grande coleção de carimbos e também desenha os seus. Já os experimentou em outros trabalhos, como no livro Viagens para lugares que eu nunca fui, da Companhia das Letrinhas, e Histórias para ler sem pressa, da editora Globo.
Apesar da iniciativa dos carimbos, foi com a tinta guache e o lápis dermatográfico que o ilustrador encontrou a linguagem gráfica do livro.
Uma das referências para essa nova grafia foi um trabalho realizado anteriormente para a exposição Illustrative 2008. O trabalho da mostra foi inspirado nas três viagens que o Andrés fez à região do rio São Francisco. A representação da paisagem resultou em texturas quadriculadas que serviram também para a representação da cidade neste novo trabalho.
As anotações dessas viagens resultaram em um repertório de elementos da arquitetura popular brasileira, como azulejos e portões de ferro trabalhados, que serviram de referência para o cenário do Siga a seta, junto com as anotações da própria cidade do Andrés, São Paulo.
Ao longo da nossa conversa para montar este post, chegamos à conclusão de que há nas ilustrações um diálogo entre o “recorte” e o “borrado”, sendo o guache (usado bem grosso) o responsável pelo aspecto chapado que ressalta a cor do papel, criando silhuetas. Já o lápis dermatográfico compôs os rabiscões mais expressivos e as transições de luz e sombra.
O azul foi a cor predominante no livro; o amarelo e o rosa, por exemplo, entraram como novas personagens.
Outra referência usada pelo Andrés foi a pintura de uma baleia cor-de-rosa e azul que ele fez para o Sesc Pinheiros, e que a autora viu e adorou, resolvendo incorporá-la ao livro. A sugestão foi muito bem-vinda porque, na mudança de contexto, ou seja, ao se transformar em personagem de livro, a Baleia, antes temporariamente no muro, se enriqueceu e ganhou maior permanência ao dialogar com uma cidade inventada. Por outro lado, é interessante pensar que a Baleia do livro tem uma correspondente gigantesca olhando para a cidade real.
Os desenhos também evidenciam o olhar do ilustrador para os espaços em branco e para os vazios que também desenham a cidade, seu espaço aéreo, as fachadas cegas (fachadas sem janelas, que fazem os prédios ficarem com cara de muros enormes) e as antenas (temas recorrentes nos desenhos do Andrés), detalhes que são vistos por toda São Paulo e da janela da casa dele.
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Sandra Jávera é estudante de arquitetura e trabalha com ilustração — no momento, no ateliê do Andrés Sandoval. Ela escreveu esse post a convite de Júlia Moritz Schwarcz, que falou sobre sua visita ao ateliê de Andrés Sandoval em sua última coluna.