Por Mohsin Hamid
No sábado, Paraty desperta totalmente. Eu vejo engarrafamentos, festas nas ruas, casais se beijando. Existe música ao vivo em todos os lugares, e telas gigantes da Flip exibem as palestras do festival. Meu jet lag bate e eu caio no sono às 17h. Mas minha esposa me acorda às 20h. E isso é algo bom, logo fica claro, porque, embora ainda não saibamos disso, vamos ficar na rua festejando até quatro da manhã.
Esta noite estamos acompanhados só de brasileiros. Dúzias de brasileiros. E nós: dois paquistaneses. Nós discutimos política, livros de ficção científica, robôs construídos em casa, as diferenças entre São Paulo e Rio, os efeitos da cachaça, a obra cinematográfica de Kevin Costner. Nós não queremos ir para a cama. Mas nós temos que. Então finalmente vamos para casa. Quer dizer: nós vamos para o hotel. Que, percebemos, começamos a chamar de casa.
* * * * *
Mohsin Hamid nasceu em 1971 em Lahore, no Paquistão. É autor dos romances Moth Smoke e O fundamentalista relutante, que deu origem ao longa-metragem dirigido por Mira Nair. Seus livros já foram traduzidos para mais de 30 idiomas. Tem ensaios e contos publicados pelo New York Times, Guardian, New Yorker e Granta. No Brasil, acaba de lançar Como ficar podre de rico na Ásia emergente, e é um dos autores convidados da Flip 2014.