Jorge Luis Borges em 1963 (Foto por Alicia D’Amico)
Esta pequena obra-prima, na verdade um simples prólogo, é a visão de Jorge Luis Borges sobre Alice no país das maravilhas e outros títulos de Lewis Carroll.
Assim como este, outros textos escritos pelo autor para livros como Bartleby, de Melville, e A metamorfose, de Kafka, estão reunidos em Prólogos, com um prólogo de prólogos (tradução de Josely Vianna Baptista).
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Lewis Carroll
Obras completas
No capítulo segundo de Symbolic Logic (1892), C. L. Dodgson, cujo nome perdurável é Lewis Carroll, escreveu que o universo consta de coisas que podem ser ordenadas por classes e que uma destas é a classe das coisas impossíveis. Deu como exemplo a classe das coisas que pesam mais de uma tonelada e que uma criança é capaz de levantar. Se não existissem, se não fossem parte de nossa felicidade, diríamos que os livros de Alice correspondem a essa categoria. De fato, como conceber uma obra que não é menos deleitável e hospitaleira que As mil e uma noites, e que também é uma trama de paradoxos de ordem lógica e metafísica? Alice sonha com o Rei Vermelho, que a está sonhando, e alguém lhe avisa que, se o Rei acordar, ela irá apagar-se como uma vela, porque não passa de um sonho do Rei que ela está sonhando. A propósito desse sonho recíproco, que é bem possível que não tenha fim, Martin Gardner lembra certa obesa, que pinta uma pintora magra, que pinta uma pintora obesa, que pinta uma pintora magra, e assim ao infinito.