Nome: Pedro Moritz Schwarcz
Há quanto tempo trabalha na editora? 3 anos
Função: Assistente do departamento de educação, coordenador dos clubes de leitura Penguin-Companhia e curador dos cursos na loja do Conjunto Nacional.
Um livro: Detetives selvagens, de Roberto Bolaño. Maravilhoso!!! Recomendo!
Uma citação ou passagem de livro:
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida …
Sou isso, enfim …
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
(Fernando Pessoa)
Por que você decidiu seguir essa carreira? Eu trabalhei como ator durante 4 anos profissionalmente, logo após ter me formado pelo Teatro Escola Célia Helena. Acho que o teatro me abriu um caminho importante na relação que tenho com a arte em geral e com a própria literatura.
Eu comecei meu trabalho aqui trabalhando apenas meio período, com o único intuito de utilizar o espaço para pesquisa de textos teatrais para uma antologia em 3 volumes (o primeiro, de comédias, já foi lançado), em parceira com o meu ex-professor de História do Teatro Brasileiro e grande amigo Alexandre Mate. Quando a Companhia lançou o selo de clássicos e fechou sua primeira parceria com a Penguin, a diretoria, percebendo que os clubes eram uma grande rede de socialização de conhecimento e cultura e, a longo prazo, uma forma de marketing e divulgação, colocou Janine Durand (minha parceira querida) e eu à frente do projeto. Diferentemente da Penguin, tentamos instalar um modelo baseado nas nossas condições e na nossa cultura. Depois os cursos entraram na jogada, na Loja da Companhia das Letras por Livraria Cultura, feitos também com a Janine e com nosso novo e querido colega, Diogo Godoy. Enfim, eu não escolhi a carreira, simplesmente aconteceu.
Sua parte favorita do trabalho: O contato e a troca! Essa riqueza que é estar sempre em contato com pessoas inquietas e estimulantes, abertas a discussão! Acho que a leitura é uma atividade geralmente solitária. Os clubes e os próprios cursos na loja, assim como os clubes sociais (encontros que realizamos na ONG Aldeia do Futuro, na Penitenciária Feminina de Sant’Ana, e no Abrigo Casa Maria Maiamar), são uma forma de transformarmos esse silêncio, a inquietação, decepção, encantamento ou o que quer que seja em troca, uma abertura respeitosa e descontraída da subjetividade de cada um. Acho que essa práxis conjunta da leitura, essa aproximação mais afetiva, e as diversas maneiras como as pessoas se comportam numa discussão são o mais interessante. Essa possibilidade de escutar (muito mais escutar do que falar) é muito bacana e desafiadora. E o que é muito interessante é que por mais que as discussões muitas vezes sejam calorosas e verborrágicas, o que fica é sempre um silêncio e uma solidão gostosa a serem possivelmente preenchidos ou não com outras discussões!
Uma história que você se lembre da editora: Quando fomos ao primeiro clube de leitura na Cultura, o primeiro de todos. Tínhamos apenas o número mínimo de participantes inscritos (nossa meta geralmente é ter entre 5 e 15 integrantes), vieram apenas 2. O livro a ser discutido era O príncipe, de Maquiavel, o primeiro publicado pela Penguin-Companhia. Hoje temos 42 clubes e muitos deles começaram devagar como esse (que por sinal é um dos grupos mais perenes que temos até hoje), e atualmente são bem estruturados. Enfim, os grupos mudam, saem pessoas, entram outras novas. Alguns terminam, outros se formam. Enfim, enquanto houver interesse (por mais que pequeno, se pensarmos no tamanho do país em que vivemos), os clubes de leitura e os cursos existirão.